Bem-aventurados os Misericordiosos…

BEM-AVENTURADOS os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia, lemos no Evangelho da Missa. Há uma especial urgência por parte de Deus em que os seus filhos tenham essa atitude para com os seus irmãos; Ele nos diz que a sua misericórdia para conosco se dará na proporção da que nós mesmos praticarmos: com a medida com que medirdes sereis medidos.

Haverá proporção, não igualdade, porque a bondade de Deus supera todas as nossas medidas. A um grão de trigo corresponderá um grão de ouro; à nossa medida de trigo, uma medida de ouro; aos cinqüenta denários que perdoarmos, os dez mil talentos (uma fortuna incalculável) que devemos a Deus.

Mas se o nosso coração se endurecer diante das misérias e fraquezas alheias, a porta para entrarmos no Céu será terrivelmente mais estreita. “Quem quiser alcançar misericórdia no Céu deve praticá-la neste mundo. E por isso, já que todos desejamos misericórdia, atuemos de modo a que ela chegue a ser o nosso advogado neste mundo, para que nos livre depois no futuro. No Céu há uma misericórdia a que se chega pela misericórdia terrena”.

Às vezes, pretende-se opor a misericórdia à justiça, como se aquela pusesse de lado as exigências desta. Trata-se de uma visão errônea, pois considera-se a misericórdia como um pretexto para acobertar a injustiça, quando, na realidade, é a plenitude da justiça. São Tomás de Aquino ensina que, quando Deus atua com misericórdia, ultrapassa a justiça, o que pressupõe – quando nós o imitamos – que se começou por respeitá-la de forma plena. É como se uma pessoa desse duzentos denários a quem só lhe devesse cem; não só não vai contra a justiça, mas, além de satisfazer o que é justo, porta-se com liberalidade e misericórdia.

Esta atitude para com o próximo é, pois, a cabal realização de toda a justiça. Mais ainda, sem misericórdia, acaba-se por chegar a “um sistema de opressão dos mais fracos pelos mais fortes” ou a “uma arena de luta permanente de uns contra outros”, como adverte João Paulo II.

É óbvio que, se não se começa por viver a justiça, não se pode praticar a misericórdia que o Senhor nos pede. Mas, depois de darmos a cada um o que por justiça lhe pertence, a atitude misericordiosa leva-nos muito mais longe: por exemplo, a saber perdoar com prontidão as ofensas, sem esperar por uma reparação ou por um pedido de desculpas; a atualizar os ordenados dos que dependem de nós acima do estrito aumento do custo de vida; a ultrapassar os limites da cortesia no atendimento a um desconhecido que nos procura; a ajudar um filho que se esforçou pouco por tirar boas notas… São pequenos gestos sem os quais – permanecendo apenas no âmbito estreito da justiça – se tornaria impossível a vida familiar, a convivência nos locais de trabalho e o variado relacionamento social.

A misericórdia é, como diz a sua etimologia, uma disposição do coração que nos leva a compadecer-nos – como se fossem próprias – das misérias que encontramos a cada passo e que nunca desaparecerão, por mais justas e bem resolvidas que possam parecer as relações entre os homens. Por isso, devemos exercê-la antes de mais nada pela compreensão com os defeitos alheios, mantendo uma atitude positiva, benevolente, que nos inclina a pensar bem dos outros, a aceitá-los com as suas particularidades, a desculpar-lhes de bom grado as falhas e os erros, sem deixar de ajudá-los da forma mais oportuna. É uma atitude que parte do respeito pela igualdade radical de todos os homens, pois todos somos filhos de Deus, apesar das diferenças e peculiaridades de cada um.

Terminando este tempo de oração, recorremos à nossa Mãe Santa Maria, pois Ela “é quem conhece mais a fundo o mistério da misericórdia divina. Sabe o seu preço e sabe como é alto. Neste sentido, chamamo-la também Mãe de misericórdia”.

Ainda que já tenhamos provas abundantes do seu amor maternal por cada um de nós, podemos dizer-lhe: Monstra te esse matrem !, mostra que és Mãe, e ajuda-nos a mostrar-nos como bons filhos teus e irmãos de todos os homens: misericordiosos e compassivos, como o teu Filho.

http://hablarcondios.org/meditacaodiaria.asp

5 respostas em “Bem-aventurados os Misericordiosos…

  1. “Mas se o nosso coração se endurecer diante das misérias e fraquezas alheias, a porta para entrarmos no Céu será terrivelmente mais estreita.”
    –> Obrigada, ajudou muito com esse post! Engraçado como Deus fala com a gente através de pessoas iluminadas e de amigos.
    Maité, você escreve muito bem, tem um português perfeito! Parabéns! Parabéns também pela sapiência, vou salvar o blog em favoritos, pois com certeza irá me ajudar a aprender cada vez mais.
    O layout do blog também é legal, esqueci de comentar! Mas com certeza o conteúdo SUPEROU ! Parabéns, irmã!
    Obrigada por tudo!

  2. Débora, muito obrigada, mas o mérito não é meu. Os textos não são de minha autoria, eu só faço um clipping de outras fontes, resumo se o texto é longo, e coloco aqui. Mas fico feliz que tenha gostado. Será sempre bem vinda !!

  3. esse texto é bem precioso, me lembrou a liturgia desse último Domingo (10º Tempo Comum), em que Deus mostra que ele prefere misericórdia, não sacrifício. Quero aprender a ter um coração manso e humilde, e assim imitar Cristo, que nos ensinou o quão importante é sermos misericordiosos, como Ele foi conosco ao nos redimir.
    Que Nosso Senhor te abençoe por compartilhar esse texto =)

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